top of page

ARTIGO - A Gestão Escolar na Perspectiva da Educação de Jovens e Adultos

INFORMAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS:

RCMOS – Revista Científica Multidisciplinar O Saber. São Paulo – SP ISSN: 2675-9128. São Paulo, ano II, v.2, ed. 1, 2022.

 
DOWNLOAD (PDF)
.
Fazer download de • 506KB

A Gestão Escolar na Perspectiva da Educação de Jovens e Adultos School Management from the Perspective of Youth and Adult Education Submetido em: 05/01/2022/ v. 2, n. 1, jan-jun. 2022 Aprovado em: [i]: 07/01/2020; Publicado em: 10/01/2020 DOI: 10.51473/rcmos.v2i1.249

Resumo

A educação brasileira de uma forma em geral teve um atraso histórico e a Educação de Jovens e Adultos (EJA) enfrentou grandes dificuldades, por isso hoje essa modalidade representa um grande desafio para a sociedade do nosso país. Mas é inegável que ao longo dos anos obteve-se vários avanços para esse segmento de ensino sendo a Constituição de 1988 e a LDB 9.394/96 um grande marco jurídico. Muitos fatores colaboraram para as adversidades encontradas na EJA, sendo a gestão escolar o aspecto fundamental para subsidiar esses problemas e o gestor, na figura de articulador, tem dentre suas funções organizar o ambiente de trabalho e a qualidade do processo ensino-aprendizagem. A pesquisa de caráter bibliográfico tem como objetivo levar a reflexão ao assunto proposto através de grandes teóricos que defendem esse tema, como Vitor Henrique Paro, Sófia Lerche Vieira, José Carlos Libâneo, Heloísa Luck entre tantos outros, ressaltando a importância do método histórico utilizado para levantamento de fatos importantes de forma que se relacionasse com o contexto atual.

Palavras-chave: Educação de Jovens e Adultos (EJA), Gestão e Gestor.


Abstract

Brazilian education in general had a historical delay and Youth and Adult Education (EJA) faced great difficulties, so today this modality represents a great challenge for society in our country. But it is undeniable that over the years several advances have been made for this segment of education, with the 1988 Constitution and LDB 9.394/96 being a major legal milestone. Many factors contributed to the adversities found in EJA, with school management being the fundamental aspect to subsidize these problems and the manager, as an articulator, has among his functions to organize the work environment and the quality of the teaching-learning process. The bibliographical research aims to lead to reflection on the proposed subject through great theorists who defend this theme, such as Vitor Henrique Paro, Sofia Lerche Vieira, José Carlos Libâneo, Heloísa Luck among many others, emphasizing the importance of the historical method used for survey of important facts in a way that would relate to the current context.

Keywords: Youth and Adult Education (EJA), Management and Manager.


1 Introdução


A escola é uma Instituição social que possui vários desafios e que dentre suas funções está o trabalho do conhecimento sistematizado, ampliação de visões de valores e de cultura, postura crítica entre outros e os educadores devem estar atentos para essa realidade assim como saber lidar com as diferenças sociais colocadas em sala de aula (Freitas et al apud Lopes & Tomam).

Sob essa perspectiva a Educação de Jovens e Adultos (EJA) possui um grande desafio, se historicamente possuímos um atraso educacional essa modalidade de ensino apresentou ao longo dos anos mais dificuldades e desde sua origem traz a característica que iria acompanhar até os dias atuais, a evasão escolar.

A gestão escolar está fundamentada na legislação e sua importância no âmbito educacional tem como objetivo assegurar que a Instituição escolar funcione da melhor forma possível, sempre interagindo com a comunidade que está inserida. Sendo o gestor a figura que irá desempenhar o papel sobre todos os setores da escola, inclusive a qualidade do processo ensino aprendizagem, por isso faz-se necessário discorrer sobre esse importante profissional. Dessa forma o presente artigo tem como objetivo refletir sobre a EJA sob o olhar da gestão e do gestor ressaltando as particularidades dessa modalidade de ensino.

Assim, esse artigo pretende fazer uma análise através da metodologia bibliográfica utilizando o método histórico de forma que reconstruísse os fatos históricos importantes para o estudo proposto. Tornando primordial pesquisar sobre o assunto através de grandes autores como Vitor Henrique Paro, Sófia Lerche Vieira, José Carlos Libâneo, Heloísa Luck entre tantos outros que contribuem para a realização deste.


2 Referencial Teórico


2.1 Eja: contexto histórico e legal


Ao se falar de educação em geral no Brasil é necessário analisar sob uma perspectiva histórica, pois muitos dos atrasos e dificuldades encontradas no setor educacional brasileiro têm fundamentos nas nossas origens. Azevedo pontua que a questão educacional vem sendo condicionada pelos valores autoritários que presidem em relações sociais brasileiras e que estão presentes desde os tempos coloniais (1997). A Educação de Jovens e Adultos (EJA) apresenta muitas variações ao longo do tempo demonstrando está ligada as transformações sociais, econômicas e políticas que caracterizam os diferentes momentos de nosso país.

No período colonial existia o interesse pela emancipação politicamente e economicamente, porém não desejavam mudanças na estrutura social, ou seja, os grandes latifundiários queriam libertar-se dos laços da metrópole, mas as mudanças que incluiriam a educação não eram de grande relevância, já que quem se beneficiariam era a classe menos favorecida. Deixavam claro que direito à cidadania não era para todos.

No Império a educação das massas começara a ser debatido de forma que parecesse que tal direito estaria sendo oferecido, como destaca a Constituição do império em seu artigo 179 “a instrução primária e gratuita, [e] os colégios e universidades, onde serão ensinados os elementos das ciências belas-letras e artes” (BARCELOS, 1933). Mas era uma forma de camuflar a verdade, onde a educação era para poucos, elitista e normal a massa viver sem qualificação escolar.

Surge então um sistema dual de ensino nos moldes europeus, mas com as peculiaridades brasileiras. O primeiro era o ensino destinado a elite, que os encaminhava para as universidades o sistema seguinte era encarregado de educar o povo, aos homens reserva-se o direito de aprender um ofício manual e as mulheres ao treinamento das prendas do lar, resumisse em um ensino primário e o secundário meramente vocacional.

No entanto algumas mudanças já poderiam ser notadas como no ano de 1854 surgia a primeira escola noturna e em 1876 já existiam 117 escolas por todo país e PAIVA (1976) destaca os Estados do Pará e Maranhão que estabelecia estudo para instruir escravos e homens populares para compreensão de seus direitos e deveres um grande avanço tendo em vista o período em que se encontrava, mas surgia a característica que acompanha a EJA desde então, a evasão:

A crise do sistema escravocrata e a necessidade de uma nova forma de produção são alguns dos motivos para a difusão das escolas noturnas, entretanto essas escolas tiveram um alto índice de evasão o que contribuiu consideravelmente para o seu fracasso. Ressurgindo novamente em 1880, com o estímulo dado a nova reforma eleitoral – Lei – Saraiva, chegando a se cogitar a extensão da obrigatoriedade escolar aos adolescentes e adultos nos lugares em que se comprovasse a inexistência de escolas noturnas (PAIVA, 1976, p. 168)

Nos anos seguintes o país passou por mudanças no aspecto econômico e o contexto educacional passa a ganhar uma nova esperança de reformulação, com ideais republicanos passaram a enxergar a educação para massa como uma forma de melhoria no aspecto social e não como um desperdício.

No século XX novas mudanças surgiram novamente, o capitalismo trouxe uma nova perspectiva e o operariado se constituía como classe e não se deixavam calar, reivindicações e mobilizações se tornavam cada vez mais presentes nessa época. Dessa forma a educação passou a ser tida como uma questão social e apesar de modestas a educação começava a mudar.

A partir de 1920 diversos movimentos civis lutaram contra o analfabetismo. A pressão trazida pelo impulso da urbanização aliada a importância da manutenção da ordem social encaminhou grandes reformas educacionais nos principais centros do país. Surge nesse período o Decreto Nº 782/A, de 13 de janeiro de 1925, denominado Lei Rocha Vaz, que instituiu a criação de escolas noturnas para adultos.

Nos anos seguintes uma série de fatos colaboraram para o crescimento e fortalecimento da Educação de Jovens e Adultos como a Constituição de 1934 que estabeleceu no seu Plano Nacional de Educação a educação de adultos como dever do Estado, criação e a regulamentação do Fundo Nacional do Ensino Primário (FNEP), a criação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (INEP), o surgimento das primeiras obras dedicadas ao ensino supletivo, o lançamento da Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA) entre outros.

No entanto um grande salto no aspecto educacional foi o surgimento da primeira Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – 4024/61, em 20 de dezembro de 1961, sendo um grande destaque o fato de instituir certificado de conclusão para maiores de 16 anos no curso ginasial e os maiores de 19 anos poderiam obter certificado de conclusão de colegial. Surgia em 1967 o MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização) iniciando uma campanha para alfabetização e educação continuada para jovens e adultos.

Dez anos depois com uma nova LDB a Lei nº 5692/71 implantava o ensino supletivo no país e foram redefinidas as funções de ensino de 1º grau e o MEC promoveu a implantação dos Centros de Ensino Supletivo (CES) a fim de atender todos os alunos, inclusive os do Mobral. Com a saída do governo militar extinguiu-se o Mobral e implantou-se o Fundo Nacional de Jovens e Adultos com o objetivo de atender as séries iniciais do 1º grau, mas sem sucesso suas atividades foram extintas em 1990.

Com o surgimento da LDB nº 9394/96 na seção dedicada à Educação de Jovens e Adultos ficou determinado o direito destes a um ensino básico adequando às suas condições e o dever do poder público de oferecê-los gratuitamente na forma de cursos e exames supletivos. A lei alterou quanto a idade dos exames supletivos de 15 anos para o ensino fundamental e 18 para o ensino médio, incluindo a EJA no sistema regular. A LDB descreve essa modalidade de ensino da seguinte forma:

Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria. § 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames (LDBEN Nº 9.394/96, Secção V – da Educação de Jovens e Adultos, artigo 37 e parágrafo 1º)


Nota-se que historicamente a EJA foi uma modalidade de ensino com função reparadora de uma dívida social, mas não confundindo o sentido de reparação com a de suprimento é indispensável trabalhar um modelo educacional que crie situações pedagógicas voltadas para a particularidade desse segmento.


2.2 A Educação de Jovens e Adultos: breve relato


A Educação de Jovens e Adultos é a modalidade de ensino voltada para pessoas que não tiveram acesso à educação regular no tempo adequado, de forma que é assegurada pela LDB 9.394/96de forma gratuita levando em consideração as características de seu alunado.

O público da EJA caracteriza-se pela sua heterogeneidade, sendo assim o ensino oferecido a esses alunos devem contemplar habilidades que lhes permitam novas inserções no mundo de trabalho e a promoção da qualidade do processo ensino-aprendizagem. De acordo com o artigo das autoras Selma Paraguassu e Luzia Silva Sousa ao se falar desse segmento de ensino deve ser considerado não somente o aspecto cognitivo, mas também social por isso cita o método “freireano” que visa a “libertação” no meio social, colocando o aluno como centro das atenções através de sua história de vida e realidade.

A aprendizagem na sala de aula se torna significativa na medida em que conseguem estabelecer relações entre os conteúdos estudados e os conhecimentos previamente construídos, baseado nesse contexto o Parecer nº 11/2000 das diretrizes curriculares nacionais para a EJA descreve que essa modalidade de ensino deve desempenhar três funções:

· Função reparadora: pela restauração de um direito que lhes foi negado e igualdade ontológica.

· Função equalizadora: relaciona-se a igualdade de oportunidades.

· Função qualificadora: refere-se à educação permanente cujo potencial de desenvolvimento pode se atualizar em quadros escolares ou não escolares.

E segundo recomendações internacionais a EJA deve ter como princípios: Inserção num modelo educacional inovador e de qualidade orientado para formações de cidadãos democráticos, sujeitos de suas ações, valendo-se de educadores permanente como respaldo da qualidade de sua atuação. Currículo variado, que respeite as diversidades e cujo conhecimento seja concebido para a construção social entre a interação teoria e prática. E por fim abordar conteúdos básicos (Proposta Pedagógica 2º segmento, 2002, p. 23-4).

Considerando que o grande desafio da Educação de Jovens e Adultos é a permanência dos alunos e qualidade de ensino, a gestão dessas Instituições deve ter um olhar todo especial para essa modalidade de ensino. O gestor deve estar preparado para desempenhar a função de agente articulador entre professo – aluno - comunidade oferecendo subsídios necessários para efetivar a proposta pedagógica da escola e sanar os problemas encontrados no seu percurso.


2.3 Gestão escolar: Abordagens, perspectivas e qualidade de ensino.


A gestão escolar – e da educação como um todo é tema central das políticas da educação na contemporaneidade, em todo o mundo. Entretanto, em diferentes contextos e momentos históricos o debate sobre as organizações das escolas e sobre a relação destas com a comunidade em que se localizam e com os governos a que estão vinculadas implica em diferentes concepções sobre a organização do espaço público e as responsabilidades do Estado, da sociedade e dos profissionais da educação.

A gestão democrática nota-se tem como princípio a participação da comunidade em todo o processo, “a participação da comunidade escolar no processo de tomada de decisão, na construção coletiva dos objetivos e das práticas escolares, no diálogo e na busca de consenso” (LIBÂNEO, 2004, p. 132).

Nessa perspectiva a gestão possui grande importância no âmbito educacional, pois constitui condições e meios para assegurar o funcionamento da instituição escolar, de forma que os objetivos educacionais esperados sejam alcançados. Assim funções como, planejar, organizar, dirigir e avaliar são conduzidas por meio de ações e procedimentos que são denominados gestão (Libâneo; Oliveira, 293-4).

Para pensar e refletir sobre a gestão escolar é necessário refletir sobre as políticas públicas que norteiam a educação, os impasses, as perspectivas e os compromissos que se impõem aos profissionais da educação.

A escola como instituição social que interage com a sociedade encontra-se muitas vezes ainda neste contexto e tem seu cotidiano permeado por práticas e teses autoritárias.

No atual âmbito da globalização, em que vivemos, verifica-se uma intensificação das interações mundiais ocorrida nas últimas décadas. Interações de trabalho, cultura e ciências que resultam em uma nova forma de pensar, sendo essas mudanças são oriundas de processos de reestruturação do capitalismo e de internalização de globalização da economia. Estas constatações refletem novos paradigmas, que exigem um novo conhecimento, uma nova pedagogia, novas compreensões, novos conceitos que se fazem necessários no âmbito da administração da educação e das políticas públicas.

Sendo assim, a compreensão da gestão democrática da educação como aparece na Lei, a partir da Constituição Federal de 1988 e nos estatutos de lutas de movimentos sociais em defesa da escola pública e de qualidade, é necessária para que se possa enfrentar os desafios teóricos e práticos que esta discussão apresenta. Embora a gestão democrática da educação figure como norma jurídica desde a Constituição Federal de 1988, sua regulamentação tem sugerido uma diversidade de interpretações que variam segundo o lugar e os agentes envolvidos.

Por estes motivos, o debate atual em torno da gestão de educação tem assumido uma centralidade. A própria discussão sobre a gestão democrática da educação se insere na luta pela democratização da sociedade e aí ela encontra o seu fundamento mais amplo.

Hoje em tempos de vigência do neoliberalismo, o tema gestão escolar está associado aos paradigmas que fundamentam a mudanças conservadoras na forma de pensar a sociedade e gestão educacional. A estratégia usada tem até aparência de políticas públicas para melhoria da educação, mas sua essência é desmistificada se forem questionados o seu caráter público e democratizante e a sua perspectiva de inclusão social.

A tese trazida para o interior da escola, a qualidade total de educação, propõe como forma a ser aplicada a da gestão empresarial, na qual a busca por resultados, o pragmatismo pedagógico, a eficiência e eficácia dos modelos deixam patente à competitividade como método e a busca pelo sucesso individual como regra.

A outra face desta estratégia, com a intenção de secundarizar o caráter público da educação, investe nos processos de descentralização e municipalização do ensino, delegando responsabilidades aos estados, aos municípios e à iniciativa privada.

Como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB (Lei 9.394/96) não efetivou um Sistema Nacional de Educação que contemple um projeto articulado, unitário e orgânico de educação, mas mantém a fragmentação e a concorrência na oferta das etapas de ensino, o quadro atual da organização do sistema educacional favorece as propostas de gestão desvinculadas de um projeto maior, isto faz da escola um lugar de aparente autonomia.

Apesar da superficialidade com que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), trata da questão da gestão da educação, ao determinar os princípios que devem reger o ensino indica que um deles é a gestão democrática.

No art. 14, a referida Lei define que os sistemas de ensino devem estabelecer normas para o desenvolvimento da gestão democrática nas escolas públicas de Educação Básica e que essas normas devem, primeiro estar de acordo com as peculiaridades de cada sistema e segundo, garantir a “participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto político pedagógico da escola, além da participação da comunidade escolar e local nos conselhos escolares”. No art.15 esta mesma lei estabelece progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas de direito financeiro público às unidades escolares públicas.

Desta forma, protegida pelo manto da qualidade, componente educacional em grande evidência e vista como principal exigência da escola hoje, a tese da qualidade total se desdobra em vários projetos e programas sobre gestão educacional. Essa tese da qualidade total tem como pressuposto principal: a educação deve se ajustar as demandas do mercado.

A atual política da gestão educacional é fundamentada nas teses neoliberais das leis do mercado, chega à escola e ao cotidiano dos profissionais da educação, utilizando-se das mais variadas estratégias para se consolidar, transformando a escola num local ideal para trabalhar com satisfação e partilhando responsabilidades.

Ao falarmos de gestão escolar devemos lembrar acima de tudo qual a maior prioridade que buscamos, por isso, Vieira (2007, p. 67) pontua:

é importante insistir que as políticas e a gestão da educação básica necessitam encontrar seu foco na essência da tarefa educativa – bem ensinar e bem aprender – tudo fazendo para cumprir a função social da escola com sucesso. A persistência do fracasso escolar entre tantas crianças e jovens em diversas partes do mundo torna imperativo reafirmar a especificidade da escola enquanto espaço para onde convergem estudantes e professores, configurando-se como uma comunidade de aprendizes. Sua razão de existir está intrinsecamente ligada à tarefa primordial de bem ensinar e bem aprender. Gestão escolar bem-sucedida, portanto, é aquela voltada para aprendizagem de todos os alunos.


O autor coloca de forma clara que todo o trabalho para se ter uma gestão escolar democrática, participativa é em prol da qualidade da educação, processo esse que começará com uma boa administração.


2.4 Papel do gestor: Coordenação do trabalho coletivo escolar e de participação na gestão da escola


Toda instituição escolar possui uma estrutura organizacional interna, que dispõe os setores e funções que caracterizam uma escola para atingir seus objetivos, para isso determina responsabilidades e papeis, para coordenar toda essa equipe existe o trabalho do gestor. De acordo com Libâneo, a função do gestor pode ser explicada da seguinte forma:

O diretor coordena, organiza e gerencia todas as atividades da escola, auxiliado pelos demais elementos do corpo técnico-administrativo e do corpo de especialistas. Atende às leis, aos regulamentos e as determinações dos órgãos superiores do sistema de ensino e às decisões no âmbito escolar e pela comunidade (2003, p. 341).


Dessa forma mais abrangente observa-se que a função de gestor em nível de escola fundamental passou por mudanças, de mero encarregado de zelar pelo bom funcionamento à transformador do meio educativo, já que com o passar do tempo o processo educativo passou por transformações o papel do gestor também está inserido dentro dessas transformações.

Pode destacar como parte fundamental do trabalho do gestor o conhecimento da legislação, pois uma escola pública está dentro de esfera burocrática e para isso é necessário conhecer as diretrizes que englobam todo o setor educacional público, assim assume cada vez mais o papel de administrador:

Para que possa fazer respeitar a legislação, o diretor de escola deve conhecê-la perfeitamente. O conhecimento das leis, decretos, portarias, instruções e regulamentos permite ao diretor encontrar respostas para uma grande quantidade de questões práticas (...) para cada questão, a resposta pode variar de região para região, de acordo com as características de cada sistema de ensino (VALERIEN, 1993, p 13).


Assim o gestor precisa ter uma visão global de toda escola como também da educação, baseando suas ações dentro das leis vigentes, portanto mostrando seu lado administrador. Mas não é só de questões administrativas que o diretor vai se envolver, a sua atuação passa por todos os setores: pedagógicos, financeiros e culturais, surge um acúmulo de funções que o diretor poderá compartilhar com todo grupo escolar.

Toda equipe precisa da presença de um líder que coordene todo o grupo, esse lado do diretor de articulador de todos os setores da escola leva a mobilizar todo um trabalho coletivo, colocando o sucesso do gestor dependente do empenho de toda equipe escolar, sendo ele (gestor) o líder, o condutor do grupo. Com um papel tão importante e fundamental é necessário compartilhar as responsabilidades com todos os participantes do processo escolar.

Por ter uma posição de destaque sua função exerce forte influência sobre toda escola, sua forma de trabalhar resultará no ambiente escolar, tanto dos funcionários como os envolvidos no processo ensino aprendizagem (LUCK, p. 16-17, 2008).

Para exercer esse cargo faz se necessário novas formas de organização e efetivação das ações. Que sejam cultivadas em relações que valorizem normas de convivência, que sejam respeitados limites individuais e coletivos, que a escola seja uma construção dinâmica pautada num trabalho coletivo primando pela função social, tendo o diretor como articulador, mediador e facilitador neste processo, pois, em relação ao sistema hierárquico e a relação de poder, conforme colocado por Henrique Paro, é:

O que nós temos hoje é um sistema hierárquico que pretensamente coloca todo o poder nas mãos do diretor. Não é possível falar das estratégias para se transformar o sistema de autoridade no interior da escola, em direção a uma efetiva participação de seus diversos setores, sem levar em conta a dupla contradição que vive o diretor da escola hoje. Esse diretor, por um lado, é considerado a autoridade máxima no interior da escola, e isso, pretensamente, lhe daria um grande poder e autonomia; mas, por outro lado, ele acaba se constituindo, de fato, em virtude de sua condição de responsável último pelo cumprimento da Lei e da Ordem na escola, em mero preposto do Estado. Esta é a primeira contradição. A segunda advém do fato de que, por um lado, ele deve deter uma competência técnica e um conhecimento dos princípios e métodos necessários a uma moderna e adequada administração dos recursos da escola, mas, por outro lado, sua falta de autonomia em relação aos escalões superiores e a precariedade das condições concretas em que se desenvolvem as atividades no interior da escola tornam uma utopia a utilização dos belos métodos e técnicas adquiridas [...]. (PARO, 2005.p.11.).


Assim, o papel e a atuação do diretor no contexto educacional são contraditórios e difíceis. Além das determinações do Estado, que deve cumprir como responsável pela instituição deve ter competência técnica, o que nem sempre é garantido na sua formação. Mas uma coisa é certa, o diretor deve ser o mediador para que na soma dos esforços, possa, com a comunidade, implantar e desenvolver práticas e ações compartilhadas, que contribuam para as decisões coletivas que fortaleçam a participação efetiva da comunidade. Somente assim, poderemos efetivar a sonhada e utópica gestão escolar democrática.

As funções são muitas, as responsabilidades também, mas o que mais pode se destacar na função de diretor é a busca pelos fatores que levam a uma educação de qualidade, pois o ensino será reflexo do trabalho de todos os profissionais de uma instituição, mas é o líder que determinará a forma como alcançar ao sucesso escolar e comandará a sua equipe nesse caminho, procurando trabalhar acima de tudo com sabedoria, dedicação, dinamismo e interação.


3 Metodologia


A metodologia empregada neste trabalho foi a bibliográfica de forma que buscasse nos autores e obras selecionadas os dados para a produção do conhecimento pretendido, e assim debater com os autores através de seus escritos (Tozoni; Reis, 2010, p. 42). Mediante a essa temática para melhor pesquisa e entendimento, foi buscado em obras literárias e acadêmicas um norte para elaborar o tema apresentado com o intuito de propor e levar o conhecimento desse assunto de grande importância a todos os educadores e demais interessados no tema abordado.

Quanto ao método se caracteriza como histórico que é descrito por Michaliszyn e Tomasini (2005) da seguinte forma “investiga eventos do passado, a fim de compreender os modos de vida do presente que só podem ser explicados a partir da reconstrução da cultura e da observação das mudanças ocorridas ao longo do tempo” (p. 30).

Adequando-o ao estudo proposto e relacionando-o a pesquisa bibliográfica, este método visa resgatar de um breve esboço histórico sobre a EJA até os dias atuais, fatores esses que se considera de fundamental importância para o entendimento do estudo proposto.


Considerações finais


A Educação de Jovens e Adultos é uma modalidade de ensino que ainda apresenta muitos desafios a serem vencidos, por isso desde a escolha do tema percebeu-se a necessidade de buscar nas pesquisas bibliográficas o respaldo aos objetivos propostos, a intenção de refletir sobre o papel da gestão na EJA.

Procurou-se refazer um breve histórico sobre a trajetória da Educação de Jovens e Adultos desde o período colonial até os dias atuais perpassando por importantes documentos legais como a Constituição de 1988 e a LDB 9.394/96. Apresentou-se aspectos referentes a gestão escolar e a figura que representa maior influência no âmbito escolar, o gestor.

Analisando criticamente todo o contexto da pesquisa e traçando uma reflexão sobre a EJA e Gestão Escolar vê-se que grandes avanços aconteceram, mas que muito ainda precisa ser feito. A estrutura educacional apesar de algumas transformações significativas, ainda não acompanha de maneira satisfatória a qualidade de ensino proposta para essa modalidade de ensino.

A relevância desta pesquisa se dá sob a ótica de que se realmente a gestão é um fator que possa contribuir efetivamente para a melhoria em todo o processo da EJA, tendo em vista que tem como propósito assegurar o funcionamento escolar e sua qualidade de ensino, pode-se concluir que a Gestão Escolar é um grande passo para atingir os objetivos propostos com esse segmento de ensino.

Portanto, verificou-se que o tema estudado demonstrou importância significativa no sentido de expor suas contribuições na relação gestão escolar na EJA, além disso pode-se constatar através das obras pesquisadas que a Educação de Jovens e Adultos é uma modalidade que deve ser trabalhada dentro da sua particularidade, sempre visando a permanência e a qualidade do ensino.

Finalmente, pode-se considerar que os resultados obtidos com a pesquisa permitiram o delineamento de importantes conclusões, contudo é importante destacar que tanto a EJA como a gestão escolar são assuntos que abrangem uma vasta área de conhecimentos, sendo assim, alguns pontos deste trabalho podem ser mais aprofundados, o que certamente proporcionará um conjunto maior de informações que serão de extrema importância para o desenvolvimento do tema.


Referências


AZEVEDO, Janete. A educação como política pública. São Paulo: Autores associados, 1997.


BARCELOS, Milton. Evolução constitucional do Brasil. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1933.


BRASIL. Congresso Nacional. Constituição de 1988.


BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº. 9394/96, Brasília, 1996.


BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Proposta Curricular para a Educação de Jovens e Adultos: Segundo Segmento do Ensino Fundamental. 5º a 8ª série: Introdução. Brasília: MEC/ SEF, 2002.


FREITAS, Maria. Et al. Escola e Sociedade: uma análise da função social da escola. Disponível em: http://marlonoliver.blogspot.com.br/2013/05/artigo-produzido-pelas-alunas-do-2.html. Acesso em: 28 fev.2014.


LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão da escola: teoria e prática. 5. Ed. Goiânia: Editora alternativa, 2004.


LIBÂNEO, José Carlos; OLIVEIRA, João Ferreira de; TOSCHI, Mirza Seabra. Educação Escolar: políticas, estrutura e organização. São Paulo: Cortez, 2003.


LOPES, Selma; SOUSA, Luzia. EJA: Uma educação possível ou mera utopia? Disponível em: http://www.cereja.org.br/pdf/revista_v/revista_selvaplopes.pdf Acesso em: 28 fev. 2014.


LUCK, Heloísa. Ação Integrada – Administração, Supervisão, e Orientação Educacional. 26 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2008.


MICHALISZYN, M. S; TOMASINI, R. 2005. Pesquisa: orientações e normas para elaboração de projetos, monografias e artigos científicos. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes.


PAIVA, Vanilda Pereira. Educação popular e Educação de Jovens e Adultos. Rio de Janeiro: Edições Loyola, 1973.


PARO, Vitor Henrique Paro. Gestão Democrática da Escola Pública. 3.ed. São Paulo: Ática, 2005.


VALERIEN, J. Gestão da escola fundamental: subsídios para análise e sugestão de aperfeiçoamento. São Paulo: Cortez; [Paris]: UNESCO; Brasília: Ministério da Educação e Cultura, 1993.


VIEIRA, Sofia Lerche. Política e gestão da Educação Básica: revisitando conceitos simples. Revista Brasileira de Política e Administração da Educação, v. 23, n. 1, jan./abr.2007, Porto Alegre, 2007.


TOZONI-REIS, Marília Freitas de Campos. Metodologia da pesquisa. 2. Ed - Curitiba: IESDE Brasil S.A, 2010.


[i] SOBRE O AUTOR: UNINORTE, Centro Universitário do Norte, Especialista em Gestão e Supervisão Escolar claudiaoliveira3275@gmail.com

Posts Relacionados

Ver tudo
bottom of page